terça-feira, 30 de setembro de 2008

Crise de Governança

Por: Sueli Berselli (sueli@sbmconsultoria.com.br), Sócia-Diretora de Governança Corporativa da SBM Consultoria & Associados e Conselheira Independente de várias empresas

Hoje li as notícias na Internet sobre a segunda grande onda de catástrofe econômico/financeira que se instala no mundo e fiquei matutando: será que Fannei e Freddie praticavam Governança Corporativa?
Fannei Mae e Freddie Mac apresentam em seu site seus Códigos de Condutas e a adesão às Boas Práticas da Governança Corporativa em um país onde a SEC é rigorosa.
Fico pensando até onde Governança Corporativa está sendo usada com objetivo apenas de agregar valor ao negócio e como vitrine para especulação financeira? Como as Boas práticas deste maravilhoso modelo podem passar tão longe da gestão?
Um dos principais objetivos da Boa Governança é a transparência, coisa que não houve na apresentação das Demonstrações Financeiras pois seriam facilmente detectados os riscos financeiros pelos analistas de mercado de capitais, com previsões das conseqüentes quebras que se concretizaram.
Outro objetivo da Governança é minimizar os riscos com Compliance (com leis, regras e regulação), item que a SEC teria obrigação de verificar. O que a SEC tem a dizer?
Comitês, partes importantes, principalmente em grandes instituições para que a Governança Corporativa seja praticada em sua plenitude, é o que mais têm nos dois grandes Fundos Quebrados. Só no Fannie está relacionado em seu site, NOVE.

Afinal o que fazia tanta gente, nos comitês, nos conselhos e nas diretorias executivas que não detectaram o menor sinal de perigo quando aconteceu a primeira crise em agosto do ano passado com o estouro da bolha imobiliária? Qual era o principal negócio dos Fundos (mercado imobiliário)?
Que providências tomaram, se tomaram, tão ineficazes que o governo americano teve que tirar do bolso do contribuinte U$ 200 bilhões para tentar estancar a sangria que contamina a economia mundial?
A mídia publica os salários mais que milionários destes executivos, que mesmo com todo este risco e conseqüente desastre, embolsaram bônus de fazer inveja aos investidores dos Emirados Árabes.
A Política salarial dos principais executivos está entre as Boas praticas de Governança; se foi aprovada, o conselho de Administração é o responsável.
Será que se premiam executivos que tornam pó as ações dos acionistas que colocaram toda sua confiança em suas competência, capacidade profissional e ética?
Quem arcará com a responsabilidade de tamanha incompetência?
São tantas as perguntas que faço, eu que sou ferrenha defensora do Modelo das Boas Práticas de Governança Corporativa, que me sinto impotente para acreditar em qualquer resposta. Respostas que são publicadas apenas para constar e que subestimam nossa capacidade raciocinio.
Estamos em um mundo em que aqueles que detém o poder fazem de conta que fala a verdade, e o resto faz de conta que acredita.
Frustração é a palavra que define meu estado de espírito.

Abracei a causa da Governança Corporativa em 1999, quando coloquei o tema numa reunião do Conselho Deliberativo da Previ-Fundo de Pensão dos Funcionários do Banco do Brasil com o objetivo que todos seus membros participassem do curso para conselheiros e assimilassem a importância destas práticas em nossa gestão.
Nem preciso dizer que o voto foi negativo por quase unanimidade, ata que guardo até hoje. Mas insisti e continuei, até ser aprovado. Todos passaram pelo curso do IBGC. (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Gostei tanto que continuei a procurar mais e mais informações sobre tema tão importante e não parei mais .
O que tenho visto nos últimos dois anos, como diz um amigo, é que “a coisa pegou” e se propagou principalmente para empresas e instituições de grande porte. Nenhum Fundo investe em empresas que não adotaram Governança Corporativa.
Práticas de governança não impedem crises externas sistêmicas, mas conseguem detectar gestores incompetentes.
Os gigantes do mercado passaram a ser exemplos de governança mundial, e estão dando exemplos que não é tudo isso que eu acredito, que eu defendo, que brado a quatro cantos.. Exemplos que as normas existem, e que são cumpridas divulgando relatórios em apresentações fantásticas, demonstrações financeiras perfeitas que contemplam belos números aos olhos dos acionistas e ao mercado financeiro, mas que podem ter sido fabricados, manipulados.
Frustração, decepção!
Que pena que um processo que enche de orgulho os que realmente o executam e acreditam esteja perdendo sua credibilidade.

Shakeaspeare – Trecho final de O Menestrel
“E você aprende que realmente pode suportar…
que realmente é forte,
e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!
Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem
que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar”

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Análise Técnica: entrevista com André Veloso, da Acert Investimentos

Por: Luiz Souza, repórter

No site da Bolsa de Valores da Bahia, Sergipe e Alagoas (Bovesba) aparece com destaque a confirmação do curso de análise técnica, ministrado por André Veloso, da Acert Investimentos. A realização do curso coincide com o momento de crise no mercado financeiro americano, algo que respingou nos ativos de compoanhias listadas na Bovespa. Ainda assim, a procura pelo curso é grande, algo que demonstra que o investidor começou a aprender que, para ganhar na bolsa, é precido estômago para enfrentar as turbulências além de preparo intelectual, para ter noção clara das estratégias de investimentos. O curso está programado para os próximoas dias, na terça, quarta e quinta-feira, dias 2,3 e 4. Inscrições: http://www.bovesba.com.br/, ou pelo tel: 3319 5700.

PP - A análise técnica se opõe à fundamentalista, ou o investidor pode usar ambas,como critério para tomar as suas decisões?
AV- A escola técnica e fundamentalista são bastante diferentes em suas premissas paraatingir o lucro sobre o investimento. Enquanto a escola fundamentalista é mais financeira a escola técnica é mais comportamental. A primeira interpreta as causas, a segunda os efeitos. A análise fundamentalista avalia a perspectiva de retorno a partir do ambiente macroeconômico internacional e nacional, inferindo sobre o desempenho do setor que aempresa atua. Daí mergulha nas informações e balanços da empresa buscando enxergara evolução e o desempenho futuro do negócio. O objetivo final é chegar a um possível preço que as ações poderiam atingir, segundo os fundamentos levantados, e comparar se o preço de mercado das ações objeto da avaliação está maior ou menor que oencontrado. Se o preço presente das ações no pregão estiver inferior ao estabelecido no estudo, o investimento deverá ser feito, pois o preço atual deveria evoluir para o preçojusto encontrado na análise. O analista avalia o negócio e não se deixa influenciar pelo vai e vêm das cotações diárias, ou melhor, ele desdenha os gráficos. Ele acredita que no longo prazo os investidores tendem a racionalidade e aos fundamentos do mercado acionário, premiando a excelência das empresas lucrativas.

PP - E o analista técnico, como procede?
AV - O analista técnico, ao contrário, faz todas suas avaliações a partir dos gráficos. Ele analisa o comportamento dos investidores a partir de pistas que vão se delineando graficamente, acreditando que os movimentos dos preços para cima e para baixo são efeitos de atitudes tomadas pelos investidores a partir das análises das informaçõesdisponíveis e, portanto, digeridas nos sinais que ele interpreta. Estas pistas constroem uma tendência que quando descoberta pelo analista técnico o faz atuar na ponta decompra ou de venda. Ele opera mais no curto prazo. O longo prazo para ele é um somatório de ações que ele vai desenvolvendo no curto e médio prazo. Eu diria que ofundamentalista provoca as mudanças de tendências no mercado, enquanto o técnico as fortalece.O ferramental fundamentalista é mais científico, minucioso e trabalhoso. Solidifica aconvicção do analista de tal maneira que não serão os gráficos que irão influenciar a decisão de comprar ou vender determinado ativo ou determinar o momento preciso de entrar ou sair do mercado.O ferramental técnico é mais simples. Com um computador e um software de análise técnica o investidor refina sua capacidade de observação dos movimentos e formações gráficas e toma decisões. Quando um sinal de entrar no mercado aparece, ele se posiciona nunca se esquecendo de estabelecer pontos de saída, quer seja para umareviravolta no mercado quer seja para o lucro pretendido. São ações pré-definidas, àsvezes rápidas, obedientes a um sistema operacional previamente construído. Como são maneiras diferentes de atuar no mercado, melhor reconhecer qual a que se adequa melhor ao perfil do investidor e então segui-la, sem deixar-se influenciar pela a outra, sob pena de prejuízos irreparáveis, seja pelo que se perde ou pelo que se deixa deganhar, que é o mais comum.

PP - Quais as vantagens de se usar a análise técnica?
AV- A vantagem da análise técnica é que ela é menos trabalhosa e complexa que a análise fundamentalista. A maior dificuldade da análise técnica é desenvolver um sistema operacional e se manter fiel a ele. Desenvolvido o sistema com indicadorescorretamente escolhidos e testados com as ocorrências passadas, o investidor terá demanter a disciplina e obediência as indicações que o sistema vai lhe dar. O sucesso nolongo prazo vai depender do número de operações vitoriosas que o sistemadesenvolvido por ele irá concretizar.

PP - Como a análise técnica pode ser usada em momentos como este, com o mercado em queda? Como funciona a análise técnica acoplada a outros instrumentos domercado, como opções, derivativos e estratégias de proteção da carteira?
A análise técnica orienta o investidor a estabelecer pontos de entrada e saída nomercado, a depender do tipo da tendência que ele vai seguir. Se a tendência é de alta, elevai tentar comprar o ativo por um preço mais baixo do que ele pretende vender e comisso realizar um lucro. Se, ao contrário, a tendência é de baixa, ele vai vender por umpreço mais alto e tentar recomprar por um preço mais baixo e com isso aumentar aquantidade de ações inicial ou recomprar a mesma quantidade e deixar à parte a quantia que irá sobrar. O objetivo final é o aumento patrimonial, quer em ações quer monetário. Mercados em baixa exigem maior experiência do investidor e as estratégias de proteçãoou ganhos são mais complexas. O sistema operacional do analista técnico pode ser calibrado para operações em mercados em queda, sem problemas. A dificuldade é queas operações com derivativos (opções e futuro) ou alugueis de ações são a parte doconhecimento técnico e, portanto, complementares, exigindo conhecimento adicional.